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Hérnia de Disco

As dores nas costas, principalmente na região lombar (porção final da coluna), são muito comuns seja na presença da atividade física ou não. Porém, a grande questão é saber exatamente o que provoca essas dores nas costas, como é o caso da hérnia de disco. Conhecer a causa da dor faz com que ela seja resolvida com mais eficiência e menor tempo, proporcionando a volta à atividade mais rapidamente.

 

O que é hérnia de disco? A coluna é formada por articulações compostas pelas vértebras e por discos intervertebrais que se localizam entre elas. Estes discos são formados por um anel fibroso e um núcleo gelatinoso chamado de núcleo pulposo.

O disco intervertebral, principalmente o seu núcleo, comporta-se como um amortecedor, absorvendo os impactos sofridos pela coluna, como os da corrida, por exemplo, cada vez que os pés tocam no solo. Ele é responsável pela sustentação do peso do próprio corpo e dos movimentos de inclinação e rotação da coluna, mantendo a estabilidade da região.

A hérnia de disco acontece quando, por aumento das forças exercidas no núcleo pulposo, esse se desloca e rompe o anel fibroso, indo em direção ao canal medular ou em direção aos espaços por onde passam as raízes nervosas, gerando compressão destas estruturas. Ou seja, o material gelatinoso do núcleo sai do centro do disco e ocupa os espaços das estruturas adjacentes, comprimindo-as.

Quando o núcleo pulposo apenas se desloca sem romper o anel fibroso, empurrando-o contra as estruturas ao redor, chamamos de protrusão discal. Neste caso, o material gelatinoso não extravasa, apenas empurra o anel fibroso, causando uma compressão mais leve.

Em primeiro lugar, é importante entender que todas as articulações da coluna vertebral devem ter movimento, pois dessa maneira os discos intervertebrais podem receber "alimento". A maior parte do suplemento sanguíneo (oxigênio e nutrientes) chegam ao disco intervertebral através do movimento quando o indivíduo tem mais de 25 anos. Quando o movimento é perdido ou diminuído em qualquer parte da coluna, o suplemento sanguíneo também diminui e com isso inicia-se um processo de degeneração.

Com o passar do tempo, se o movimento não é restabelecido na articulação, os músculos ao redor dela começam a se encurtar, perdendo a flexibilidade. Com isso, o espaço entre uma vértebra e outra, destinado aos nervos, começa a diminuir, comprometendo o impulso nervoso. Além disso, o disco intervertebral diminui de espessura como resultado da diminuição do aporte de alimento e oxigênio e pelo fato de que o peso não é mais absorvido e distribuído igualmente pela falta de movimento na articulação. Isso faz com que o anel fibroso fique vulnerável a rupturas, permitindo a formação da hérnia de disco. Esta perda ou diminuição de movimento pode ser causada por várias razões, entre elas: trauma na coluna, desequilíbrios musculares, diferença de comprimento das pernas, obesidade, alterações da postura e envelhecimento.

A perda do movimento, aliada a esforço excessivo ou repetitivo, disfunções biomecânicas e maus hábitos posturais podem levar ao aparecimento da hérnia de disco. Por exemplo, ao levantar um peso do chão, estando com o tronco inclinado para frente, sem agachar, faz com que o disco sofra uma força na sua porção anterior, empurrando o conteúdo do núcleo pulposo para trás e forçando uma ruptura do anel fibroso. Esse gesto associado a movimentos de rotação da coluna pode ser considerado uma postura de maior risco para a formação da hérnia. Porém, podem existir casos em que apenas um trauma ou movimento inadequado resulta na hérnia, mesmo sem a existência de um processo degenerativo.

Sintomas: Dependem da causa do aparecimento da hérnia discal. A dor pode estar presente ou não. Poucas pessoas sentem dor na coluna assim que o processo de degeneração se inicia, enquanto que a maioria só sente dor quando o processo já está avançado. Assim, é comum dores na região lombar e/ou nos membros inferiores (as vezes até o pé), de acordo com a localização da compressão. Ou seja, se a compressão está à direita, o sintoma será no membro inferior direito e assim por diante. Pode ocorrer alteração da sensibilidade no membro inferior do lado acometido e dificuldade para andar ou realizar determinado movimento por incapacidade muscular, causada pela compressão de raízes nervosas.

Solução:  A maioria das pessoas não vai cuidar do problema até que esteja em "crise". E uma crise de coluna pode acontecer dez anos após o início do problema. Por essa razão, a prevenção acaba sendo a melhor opção. Depois de instalado, a única maneira de tratar e resolver o problema é com uma abordagem progressiva. Não acontece num passo de mágica. A correção da causa será gradual. Daremos ênfase no tratamento conservador, porém alguns casos necessitam de cirurgia ou injeções de anestésicos ou antiinflamatórios na coluna. Em geral, podemos dividir o tratamento em três fases e se você tentar pular uma das fases é bem provável que termine voltando para a primeira novamente... TRATAMENTO EM 3 FASES:

Fase 1: Fase aguda

Durante a fase aguda, a articulação e todas as estruturas em volta (músculos, nervos e ligamentos) tornam-se extremamente inflamados e espásticos (contraídos exageradamente), o que resulta em muita, muita dor. O primeiro e único objetivo dessa fase é "apagar o fogo". Isso deve ser feito o mais rápido possível já que essa fase é a mais debilitante e sofrida (em geral este estágio pode durar de 2 a 6 semanas). As medidas mais indicadas para essa fase é descanso relativo, gelo, fisioterapia, acupuntura e medicação antiinflamatória e analgésica. Descanso relativo significa que você deve parar qualquer atividade física (até porque, nessa fase, nem o corredor mais fanático conseguiria manter o treino ou, pelo menos se mentalmente são, não deveria...). Porém, o repouso absoluto, deitado numa cama, é indicado apenas para os casos graves onde a postura sentado ou em pé não é tolerável devido à intensidade da dor. Nesta fase o mais importante não é reconquistar o movimento perdido, mas sim não exigir muito movimento na região afetada para não aumentar o processo inflamatório e congestão já estabelecido na região. Alguns suportes (cintas ou coletes) para a coluna ajudam no alívio da dor nesta fase. A fisioterapia pode auxiliar no relaxamento da musculatura e reeducar o paciente quanto às posturas mais indicadas nas diferentes atividades do seu dia-a-dia, como por exemplo: em que posição dormir, como se virar na cama e levantar-se corretamente, como ajustar a cadeira e a mesa do trabalho para não agravar a dor e compressão do nervo.

Fase 2: Reabilitação

Essa é a fase que a maioria das pessoas não toma conhecimento. O movimento deve ser restaurado na articulação da coluna e deve ser orientado um programa de recondicionamento dos músculos que suportam e estabilizam a coluna, que deverá ser seguido para a melhora a condição geral da coluna. A maioria dos sofredores de dores nas costas acha que uma vez que a dor diminui ou desaparece é porque o problema foi resolvido. A verdade é que isso é apenas o começo da fase de correção. Essa fase dura de 4 a 6 meses de dedicação e trabalho duro, mas você verá resultados gratificantes e duradouros. Esta fase consta da combinação de técnicas que visam restabelecer o alinhamento estático e dinâmico da coluna e principalmente a capacidade de movimento em todas as vértebras da coluna.

Para atingir esses objetivos o corredor pode procurar fisioterapeutas que trabalhem com técnicas de terapia manual como  Osteopatia.  Juntamente com a restauração do movimento devem ser intensificados os exercícios de estabilização da coluna, que terão o objetivo de facilitar o recrutamento dos músculos que protegem a coluna.

Para os corredores que se interessam por anatomia e querem aprender mais sobre os músculos envolvidos na reabilitação da coluna, os principais músculos estabilizadores da coluna são: quadrado lombar, transverso abdominal, oblíquos, multifidius e psoas. Estes exercícios podem ser aprendidos na fisioterapia ou se você não tem acesso a esse serviço uma outra opção é o Pilates, que pode ser feito em uma academia de ginástica. O mais importante é que você tenha supervisão durante a realização dos exercícios até que esteja familiarizado com a correta posição e execução dos mesmos para prosseguir por conta própria. Após a conquista do recrutamento da musculatura estabilizadora da coluna é indicado o início de fortalecimentos musculares globais: todo o grupo abdominal, glúteos, flexores do joelho (isquiotibiais), extensores do joelho (quadríceps), extensores da coluna (paravertebrais), entre outros. Estes músculos são importantes para o mecanismo protetor da coluna durante a corrida, pois o estresse, normalmente localizado na coluna lombar, deve ser transportado para os quadris, joelhos e tornozelos, para a conquista de um sistema completamente equilibrado.

Outro fator que contribui nessa fase é a adoção de hábitos saudáveis, como a perda de peso se você está acima do indicado para a sua altura, e boa postura durante as suas atividades de vida diária. Uma vez que o atleta tenha iniciado e se adaptado aos exercícios de estabilização da coluna e aos exercícios de fortalecimento geral, processo este que leva em média duas semanas, os exercícios aeróbicos podem ser reiniciados e progredidos gradualmente nesse período de 4 a 6 meses. Dependendo da gravidade de cada caso, o médico ortopedista e/ou fisioterapeuta deverá auxiliar na escolha da atividade aeróbica mais indicada para você iniciar a sua recuperação. O grau de compressão nervosa determina o momento da volta à corrida: uma compressão mínima permite o retorno mais precocemente quando comparada a uma compressão maior. Além disto, existem outros fatores que serão levados em consideração: algumas compressões ocorrem ao flexionar a coluna, enquanto que muitos casos degenerativos se agravam mais com extensão da coluna. Se o seu caso piora com flexão, atividades como natação, deep running e corrida serão mais indicadas. Nos casos agravados por extensão da coluna, a primeira atividade aeróbica tolerada pelo paciente será bicicleta ergométrica (de preferência aquela mais horizontal, com apoio nas costas).

Fase 3: Manutenção

Esta fase fará parte do resto da sua vida... Pelo menos, requer o menor esforço, tempo e dinheiro para manter as excelentes mudanças conquistadas nos meses anteriores. Se você não mantiver um programa de manutenção, existe grande chance de voltar à estaca zero. A idade pesa sobre todos nós, principalmente nas nossas articulações, ossos e músculos. Na nossa opinião esse não é um preço alto a pagar pelo benefício de se manter ativo e fazendo o que você mais gosta. Portanto, como o processo de envelhecimento é natural e inevitável, a melhor forma de evitar a dor nas costas por causa da hérnia de disco é prevenir, começando com bons hábitos posturais para evitar que movimentos que parecem bobos no dia-a-dia acabem acarretando uma patologia que pode atrapalhar os planos para uma nova prova ou meta.

Contra Relogio  Edição 162 - MARÇO 2007 - ALESSANDRA  ARKIE  e  KENIA GUERRA BAUM

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